quinta-feira, março 24, 2022

Operação à base avançada da Mepoche 29 de janeiro de 1973:




 Veio à memória quando no Lunho foi realizada uma operação a nível de Companhia, à base avançada da Mepoche, as dificuldades em definir um rumo num terreno, demasiadamente plano e sem pontos de referência. tirando uma exceção uma aqui outra acolá, a paisagem mais parecia, uma mesma imagem sucessivamente repetida, num cenário virgem e selvagem que talvez nunca tivesse, até então, visto gente. A imagem a indicar o caminho, ilustrava bem a dificuldade de, definir um rumo embora para nós que fazíamos parte da operação, parecesse coisa singela. Se bem me lembro nunca antes a tropa, chegara àquele local, o que penso eu, determinou que o nosso inimigo, de então tenha decidido ali instalar uma base. era longe, e não havia caminhos que nos lá levasse. Chegar às suas imediações, implicou um longo percurso, a corta mato, seguindo as indicações do nosso Comandante de Companhia António Cardoso Capitão Miliciano, que mais parecia orientar-se por telepatia. Aventura que foi uma grande viagem além da operação ser de oito dias, até que avistamos o rio da Mepoche, onde foi feita uma pausa para a reunião dos oficiais, e sargentos, afim de escolher um grupo de onze militares que iam fazer o assalto à dita base. aqueles que foram escolhido como eu! não conhecíamos, os andanhos daquela mata, incaracterísticas. Quando nos foi ordenado pelo comandante, seguimos um trilho que ao lado se encontrava cultivada uma machamba de milho, e ao cimo uma palhota onde se encontrava, um guerrilheiro da Frelimo, de vigia fugiu com a sua arma em direção à base alertar os camaradas a nossa presença. O episódio se passou quando chegamos ao cimo do trilho, ali vi uma base constituída por cerca de trinta palhotas, fizemos o cerco fomos recebidos com fogo das armas ligeiras, e automáticas, fui visto por um dos guerrilheiros, que me apontou a sua arma, eu me encontrava protegido por uma árvore o rebelde disparou uma rajada de tiros, os projéteis  ficaram cravados, na mesma árvore que me protegia. De imediato eles se puseram em fuga, deixaram para trás todos os seus pertences que nós com Ronso da picada chegamos fogo a todas as palhotas, Em pouco tempo estávamos a ser bombardeados pelo morteiro 82. A destruição da base foi total em seguida  abandonamos o local ao descer o trilho, senti o estoiro das granadas a estoirar perto de mim, e os estilhaços a perfurar as árvores. Continuei a descer aquele trilho, como se tivesse de memória cada árvore, não obstante tudo parecesse igual, numa paisagem imutável e agreste. Simplesmente recordo aquele dia 29 de janeiro de 1973,inicilamente sobre a ameaça do morteiro 82 ou de uma emboscada, fomos ter com o  grupo que ficaram junto ao rio da Mepoche. A operação terminou ali, foi-nos ordenado que abandonássemos o local, continuamos a calcorrear aquelas matas, a poucos quilómetros fizemos uma pausa para o  merecido almoço (ração de combate) deixamos para traz um rasto de destruição, depois de termos ingerido a refeição, fomos surpreendidos por alguns guerrilheiros da Frelimo, que nos seguiram, aos primeiros tiros, se puseram em fuga. Naquele  momento seguimos marcha, em direção ao nosso aquartelamento, ao passar por várias árvores, algum camarada sem querer, mexeu numa das árvores, fomos atacados por um enorme enxame de abelhas, onde foi fortemente picado o soldado António Varandas, que foi evacuado ali no mato por um helicóptero,   para  hospital do Setor "A" em Vila Cabral. Pensou-se o pior, mas tudo correu normalmente, não fora mais um problema que ninguém esperava,  ninguém se apercebeu e tão pouco fês qualquer  sinal para parar, inicialmente se pensou que tudo estava normal, o   soldado Rogério Sampaio, esqueceu-se do lugar onde estávamos, provavelmente se enganou nos trilhos, deixou de nos ver, como se fora algo que mais à frente nos encontrava, deixara para traz simplesmente, foi numa outra direção ficou perdido naquele isolamento no meio do mato e capim, passou aquela  noite escura, só à mercê dos animais selvagens e pelos guerrilheiros da Frelimo, pelo tempo e pelas intempéries.  Quando chegamos ao aquartelamento do Lunho, foi feita a formatura de a praxe, foi quando demos pela falta desse nosso camarada, que ficou perdido no mato. No dia seguinte um pequeno avião sobrevoou a zona, e não foi possível detetar a sua presença. O segundo grupo de combate saiu ao seu encontro, fomos encontrar ao fundo da ponte do Lunho, acompanhado por um amigo de quatro patas, que nunca o abandonou. Não me admiro nada, que para o meu camarada Rogério Sampaio, aquela noite que lhe trás à memória, recordações de um advento de guerra nunca se apagará. Gastou-se rapidamente o mês e os meses que restavam de 1973,o segundo Natal disfarçado no meio de um calor de derreter, seguindo-se os dias, um a um lento calvário sem fim à vista. Ao décimo quinto mês deixei de pensar no assunto, e só alguns se entretinham, a contar o tempo, esse continuaria arrastar-se pastoso, rotineiro, monocórdico e entediante,  apenas pelas visitas, semanais do "avião" sempre desejado animação materializada trazendo o sagrado correio condicionado dentro daquele pequeno saco. fui ocupando o tempo com rotinas, já mais que rotinadas, com aquela certeza que acompanhava com uma cerveja laurentina, para mitigar a sede e amenizar o calor já que a água era férrea e não sabia bem e a cerveja não era cara. Identificava os cheiros fortes e característicos, do aquartelamento, já conhecia a cor da musica desordenada, das grossas pingas de chuva embatendo com violência, no telhado de zinco da minha caserna. Habituei-me às sistemáticas mudanças de paisagens, que as chuvas diluvianas, pintavam de múltiplos tons de verde para de seguida iam sendo teimosamente, repintadas de ocre com pinceladas de negro, acinzentado das queimadas, à medida que a época seca se instalava. 

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72.                                     

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