sábado, outubro 31, 2020

Um veterano da CCac3387/BCac3848 e as Madrinhas de Guerra

                                             NOITE DE CONSOADA DO ANO DE 1972.

Estávamos a menos de um mês do Natal; Nós ainda muito jovens, cercados pelo perigo que nos sufocava, cercados de arame farpado dormindo em cubículos, construídos em chapas de zinco. Não havia uma árvore de Natal, nem presépio, e nem interessava ali no Lunho era um local, muito perigoso de comemorar, não saia da cabeça de ninguém, o trágico e amargo de que o inimigo não aparece-se, por ali com raiva contida, que podia fazer estragos mesmo entre os nossos. pela primeira vez eu passei o Natal longe dos meus familiares. Nem tudo foi mau os cozinheiros serviram o jantar na caserna do primeiro grupo de combate. Naquela noite de consoada, havia guardas de rigorosa prevenção em todos os postos de sentinela, o pessoal da secção da cozinha nos serviram o jantar de consoada, com batatas, e o bacalhau. o cabo cozinheiro, nos serviu um pouco de vinho no copo do cantil, azedo e sabia a vinagre ermos soldados que combatíamos pela Pátria sujeitos a situações. Naquela noite de consoada nem um copo de vinho do Porto, os laços dos sargentos e oficiais que tinham possibilidades, não deixem o presente e o passado, a sua identidade. Nós ainda eramos checas perdido no meio do mato e capim não sabíamos o que era a guerra.              

                                                         
A noite de consoada do ano de 1973 chegou com ela a possibilidade, de degustar iguarias várias a que os estômagos, já não estavam habituados por aquelas bandas; O bacalhau e as batatas, para todos nós soldados; O bolo rei, whisky, e espumante à descrição, só para oficiais e sargentos. Confesso que até entanto nunca tinha visto ou imaginado, da primeira noite de Consoada, do ano anterior, comemos e bebemos, para enganar a miséria do nosso dia a dia, no dia seguinte voltamos ao arroz com salsichas. A luta permanente fazia parte da nossa existência, aprendi que no Lunho tinha que distinguir, a existência de "checa" para algo que fazia parte da minha existência de "Velhice". Depois daquele jantar de reconciliação, estendi-me ao comprido, só acordei no dia seguinte, o sol ia já bem alto dormi que nem um justo, que é como quem diz com força o corpo, assim o exigiu e nem sequer esbocei o mínimo gesto de o contrariar.                     

quinta-feira, outubro 08, 2020

O abandono do Lunho 1974.

Naqueles tempos na guerra do <ultramar,  apenas de estratégia, operacional, determinavam as instalações, de  militares no meio de um ermo, longe de tudo e de todos, as companhias que por ali passassem não perdiam a oportunidade, para encenar e chatear quem estive-se sobre as suas ordens. Não era uma localidade, mas apenas umas improvisadas instalações, militares ali plantadas por estratégia de ocupação, de território, porque a guerra nos empurrara, para a parca segurança, e desconforto que proximidade a tropa propiciava. Era enfim, um escasso quadrado delimitado, por uma frágil cerca de arame farpado no meio de capim imenso, representando uma humilde mostra, da soberania portuguesa. Pode parecer recorrente, falar do isolamento mas era um facto de tal forma, marcante que ainda hoje recordo, com razoável pormenor as vicissitudes que ali passamos. O Lunho ficava para lá de tudo o que pudesse ser, considerado um limite remoto, e autêntica fronteira, o fim de tudo um sitio que ninguém imaginava, para ali não confluíam estradas. Naqueles tempos apenas necessidades de estratégia, operacional determinaram as instalações no meio de um ermo, longe de tudo e de todos local a que nem o comandante do distrito do Niassa, parecia interessado em nos visitar. Acabada a guerra, e abandonada a área pelos últimos militares, portugueses ali destacados, o local ficou ao abandono, voltou às suas lavras e tudo que outrora corporizava,  instalações militares transformou-se em ruinas, integralmente tomadas pelo capim sinal que de facto, aquele local não era adequado à fixação de seres humanos. Gerações de militares até à nossa vez. Dezassete meses foi o tempo, que por ali andamos procurando uma difícil, adaptação ao nosso novo  mundo. numa incessante  demanda, por qualquer coisa que  se assemelha-se ao que deixamos para trás, meras recordações, diluídas pela passagem do tempo se esfumavam até quase passarem ao esquecimento. 

Testo de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72              

 

sexta-feira, abril 24, 2020

A PRIMEIRA SEMANA DA MINHA RECRUTA: EM VILA REAL DE TRÁS OS MONTES.



Fui apurado para todo o serviço militar obrigatório, a partir desse dia estava
às ordens do exército de Portugal, os dias iam passando, um certo dia fui à junta da minha 
freguesia e no interior da vitrina, lá se encontrava uma relação com os nomes dos jovens, que
iam assentar praça em várias Unidades. O meu nome também se encontrava e que tinha de me
apresentar, no Regimento de Infantaria n.º 13 em Vila Real de Trás os Montes, no dia 17 de janeiro
de 1972 (1.º Turno). O dia chegou eu embarquei num comboio, em S. Frutuoso em Folgosa da Maia,
até Ermesinde, ali eu tive de mudar para a linha do Douro, onde segui viagem num outro comboio até à cidade da Régua.
onde desembarquei e me dirigi para a via estreita onde já se encontrava, um comboio velho a carvão,
(O TEXAS) que me levou até à velha estação de Vila Real. Ali  desembarquei caminhei a pé até à Unidade Militar. Quando cheguei à nossa espera se encontrava um oficial para nos dar as informações
Já dentro das instalações encontrei vários recrutas como eu, oriundos de todo o país, com o  decorrer do tempo era indiscutível a amizade, que nasceu entre estes homens, alguns nascidos em berços diferentes,
unidos apenas pela idade e pelo serviço militar obrigatório. Todos passamos a fazer parte das famílias uns dos outros, foi ali nos meses de instrução. Ali jurei bandeira fui transferido para o Regimento de
Infantaria n.º 2 em Abrantes, tirar a minha especialidade de corneteiro, meses depois fui mobilizado para
a Região Militar Moçambique. Em seguida fui transferido para o Regimento de Infantaria n.º 1 Amadora formar Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões. No dia 12 de novembro de 1972 fui transportado para o aeroporto de Lisboa ao escurecer o avião levantou voo em direção a Moçambique coitado de mim tive de apreender à minha custa as regras de sobrevivência a zona do Niassa (LUNHO) era tão perigosa, já tão referenciada pelos soldados já velhos ali naquela zona. Fiz muitas lamentações, era uma reação emocional, Ali vivi 17 longos meses, numa visão correta de miséria, e da grandeza, dos seus semelhantes. Tinha a idade de maior, já me revelava ser um homem, mais maduro ter tido cedo responsabilidades, que me obrigaram a crescer. 
Aqui nesta Unidade assentei praça no dia 17 de janeiro de 1972 (1.º turno) a obrigatoriedade seguinte foi tomar um duche de água fria, para essa época do ano. Não adiantava nada dizer que ia bem lavadinho, que tinha tomado banho em casa,. .. uma ordem era para ser cumprida, e não havia como não a respeitar. Após a distribuição dos maçaricos pelos pelotões, começou a instrução militar ritual esse, de segunda a sexta durante dois meses, que compuseram a instrução básica.  Começamos a conhecer melhor uns aos outros, e arranjar novos amigos, a criticar certas atitudes, tomadas por alguns e ainda com um ou outro caso pitorescos pelo meio. Eu tirava do meu pequeno saco em pano, uma sandes de bacalhau frito que devidamente preparada e que a minha mãe me aconselhava a levar, com o medo de passar fome. 

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:
    

  

domingo, março 15, 2020

Fotos do Lunho 1972 a 1974 e da vida civil.

Picada do Lunho 1972 a 1974.




Niassa Moçambique «LUNHO» 1972 a 1974:
49 anos já passaram daquela tragédia que eu assisti naquela picada foi horrível para mim.  
,Muito haveria ainda para dizer, sobre a particularidade picada do Lunho. Será talvez mania minha insistir  nisto? mas, a verdade é que ainda recordo, aquelas imensidões que nem o arvoredo se atrevia a incomodar. Começando num  ver luxuriante no pico da época das chuvas, aquelas cearas de capim viçoso, mudavam de cor ao sabor dos equinócios, esmaecendo num processo que as iam matizando lentamente de amarelos tímidos até adquirirem aquele ocre por efeito das grandes queimadas, voltando a rejuvenescer com as primeiras águas da época seguinte. É uma natureza que, morrendo pelo fogo, renasce das cinzas, exuberante e pujante como se o fogo lhe conferisse a vitalidade.  Era esta mesma picada  que, formando uma intricada e caótica sucessão de espaços impossíveis  de contornar, se interpunham no nosso caminho dificultando o andamento da viatura, como se, resistido, se procurassem vingar da nossa intromissão que, bem se podia dizer, profanava a quietude daquele mundo selvagem sobrepondo-se ao suave murmúrio de roçagar do capim embalado pela  brisa amolengada por força do calor sufocante que chegava a calar o cucuritar dos pássaros empoleirados no espaço arvoredo circundante. O facto é que, para se ir a qualquer lado, não havia forma de seguir em frente sem seguir  pela picada já que a tentativa de a contornar aumentava a distância, e não se resolvia a questão com o tempo aprendemos  a conhecer especialmente a picada de Nova Coimbra para o Lunho. Trilhar aquela picada era uma aventura; por muitos cuidados que se tivesse e por muito que se pensasse que já sabia tudo, acontecia sempre algo de inesperado. Um dia o desagradável aconteceu na ida do Lunho para Nova Coimbra, tudo correu dentro do previsto mas no regresso quando o pior já ficara para trás a berliet enterra-se no lamaçal da picada, A situação foi sendo resolvida, o episódio que agora recordo e que infelizmente eu assisti, faz parte da história da companhia de caçadores 41 41 os Gaviões, se desenrolou naquela picada consistente que ligava o Lunho, a viatura foi ficando consistente, carregada de soldados quando as chuvas regressavam, a picada ficava submersa, ou porque já estivesse. Permanecia a consistência necessária para a viatura poder circular, sem atascar desde  que o condutor a fizesse circular lentamente, e não se desvia-se do traçado da picada submersa. Até que por razões que não chegaram, o pior aconteceu. Parece que por culpa involuntária, de alguém talvez à mistura com um quanto bastante de excessiva confiança, e complementado com um bom bocado de imprudência, e uma pitada má sorte do condutor, desviou-se do traçado submerso da picada. Ainda que o desvio tivesse sido ligeiro, patinou enterrou-se na lama, e imobilizou-se,. Tentou  fazer marcha atrás, usou todos os truques que entretanto a experiência lhe ensinara para sair do atoleiro mas tudo em vão. Com o cansaço de todos nós que viajávamos em cima da berliet, a viatura continuou queda e muda, presa no amplexo peganhento da lama. Um camarada adido à companhia de caçadores 41 41 os Gaviões seguia ao meu lado, se descuidou tombou da viatura, foi apanhado com o rodado dianteiro do lado direito, que lhe esmagou a cabeça. saltamos abaixo da viatura e já nada pudemos fazer já estava moribundo nós eramos ainda checas de verdade começamos aos gritos ao ver esta dramática situação. Foi conduzido por uma outra viatura até ao aquartelamento do Lunho onde foi colocado junto à Capela dos Bidons. Ali passou a noite no dia seguinte apareceu um pequeno avião com a sua urna e o especialista, que o colocou na mesma  e  chumbou no local,  foi feita a despedida do camarada, com muita tristeza ,  com a nossa ajuda foi transportado até ao pequeno avião estacionado na pista de aviação,  que o levou para ser transladado. Tive conhecimento que esse camarada foi enviado para a Metrópole afim de serem feitas a exéquias fúnebres  foi sepultado no cemitério na sua terra Natal em Cabeceiras de Basto. 

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:                   

sexta-feira, março 13, 2020

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

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Nesta foto estou a ver as mudanças ocorridas naquela terra Do Niassa que deixei para trás há tantos anos. Agora é alcatroada Em vês de terra batida em frente Rumo a Messumba e Nova Coimbra À direita vai para Maniamba.

quinta-feira, janeiro 23, 2020

VTS 01 1

Metangula Moçambique
Meponda Moçambique
Capela em Meponda junto ao Lago do Niassa
A parte do altar escavado neste embondeiro
Esta é a picada de Vila Cabral até Meponda

Recordações da minha vida Militar.