terça-feira, março 01, 2022

Enfermaria do LUNHO:
















1.º Cabo Enfermeiro

Valadares Pereira:
                 Enfermaria do Lunho:                              1972 a 1974:
Nesta enfermaria, qualquer foco de infeção, e pequenas feridas de um dia para o outro, qualquer erupção cutânea, e o pó de talco antimicótico, aplicado nas dobras da pele fazia desaparecer as comichões, e irritações, que a humidade sudorifica agravava. A medicina preventiva era a preocupação do furriel enfermeiro. todos os dias ao almoço o enfermeiro de serviço, dispunha junto ao prato de cada um, dois ou três comprimidos: O vermelhinho, que visava compensar as insuficiências vitaminas, e minerais da alimentação, pobre e sem sabor; o comprimido branquinho, que continha a imprescindível, resoquina contra o paludismo; e mais um outro que não me lembro para quê? até havia a dose cavalar, de Vitamina era injetável, que se dizia fornecer tudo, o que o organismo, precisava. Pelo menos o Palúdico, na sua permanente mania das doenças e fraquezas, era cliente assíduo. Mas a verdade seja dita,  a grande preocupação do nosso escasso e improvisado corpo clinico centrava-se no combate ao paludismo  e à terrível doença do sono. A luta contra o paludismo, era diária através de medicação preventiva. Só em caso de contágio, quando a febre subia aos quarenta graus, se justificava a via endovenosa com a injeção de doses cavalares, de resoquina. Já a doença do sono exigia a inoculação periódica de uma vacina que era pressuposto, imunizar-nos contra uma ameaça invisível. Por mim e creio que para quase todos, mais picadela menos picadela, já não fazia diferença. Há muito que estávamos habituados, a essa rotina tanto mais que se preferia isso , ao desconforto e à perigosidade da doença. Fazia-me me ver, estando assim seria mais doloroso, para além de transformar uma simples picada em algo complexo. O enfermeiro Valadares Pereira perdeu a compostura: Acalma-te lá porra! pensa em gajas! disse brincando , baixei os meus calções, estiquei-me num banco corrido, mal senti o contacto frio do algodão que desinfetava a zona, preparou a agulha como de costume, separada da seringa, e num movimento brusco, procurando aliviar o meu tormento, deu-me uma pequena palmada na nádega nua, conseguiu  esperando conseguir, num golpe violento espetou a agulha, como uma estocada em um touro bravo. Encaixou a seringa e começou a empurrar o liquido obrigando a penetrar, naquela fortaleza de músculos. levantei a cabeça, cerrei os dentes, num verdadeiro esgar de dor, aguentei até ao fim, porra gostas de sofrer? Desabafou o enfermeiro, finalmente sacou a agulha, num gesto brusco ao mesmo tempo esfregava o algodão, emudecido na nádega repentinamente descontraída. Não percebes que assim é que dói mesmo? Mas eu não queria saber disso. Levantei-me puxei os calções, e enquanto afivelava o cinto, balbuciei num suspiro  diz o enfermeiro pronto já está, afastei-me a coxear, esfregando o rabo, à procura de alivio para o ardor que sentia.

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72. 

Sem comentários:

Enviar um comentário