sexta-feira, fevereiro 25, 2022




 Aqui está o nosso «1.º Cabo Cripto» José Xavier com o saco do correio»
Já que mais uma vez fiz referência, à importância da chegada do correio, ao Lunho. Aqueles dois dias na semana, que o pequeno avião que os velhinhos o batizaram pelo nome de "Pêga" aterrava na pista dos Castelões do Lunho para deixar um saco de cartas, e aerogramas carregados de noticias de casa, traziam mais alento ao pessoal do que uma bela refeição de bife com batatas fritas. Era espécie de religião, um desejo incontido, um vicio irresistível autêntica dependência saudável. fazendo com que os outros dias, fossem meras etapas de um caminho, que desaguava em cada terça feira, e se repetia com que os outros dias à sexta feira, seguindo-se um longo interregno com um fim de semana, pelo meio sábados e domingos, que ali no Lunho  não eram diferentes de qualquer outro dia da semana. Desde que não fosse dia de correio, eram todos iguais. De facto, verdadeiramente especial, o nosso dia Santo  era mesmo o dia em que recebia noticias.     

Todos nós ansiosos, procurando adivinhar, pelo volume do saco, a quantidade de cartas e aerogramas que trazia. O saco era entregue na pista de aviação, tirado do avião e entregue ao nosso cabo Cripto José Xavier, era escoltado no seu percurso até às transmissões, como uma preciosa relíquia se trata-se. Todos lhe queriam tocar! O nosso improvisado  carteiro António Brites, se colocava em cima de um dos bidons, eu seguindo com os olhos ávidos, no maço de cartas e aerogramas, anunciando os nomes inscritos em cada carta, e aerograma. Quando era para mim eu respondia: Eu eu. Respondia como se tivesse ganho a lotaria. O  Brites continuava com o pregão  e insinuava; hoje não lerpas! recebia correio mais importante da minha namorada, e das madrinhas de guerra. Nunca recebi correio dos meus familiares, eu também não perdia o meu tempo a escrever. O importante como as coisas, verdadeiramente importantes isso era o que acontecia com todos, desde o oficial sim porque a Companhia de Caçadores 41 41  os Gaviões havia uns quantos analfabetos. E, recorrendo ou não ao companheiro do lado, todos se dedicavam à leitura, devorando sofregamente cartas que narravam acontecimentos, e transmitiam sentimentos, simples discorrências para encher a folha de papel, pura descrição de assuntos a que só a distância conferia o significado. Mas havia um que não encaixava em tudo isto. Um soldado que, tanto quanto me lembro, nunca recebera uma simples carta, ou um aerograma. não sei a razão? dizia que apenas tinha sua mãe e um irmão, vá-se lá saber porquê, O Manuel Almeida conhecido pelo (Cantiflas) era um soldado estranho, um chato, isso via-se no dia-a-dia. Parecia não ter jeito, para fazer amigos e, talvez por isso costumava a andar só. Não porque  quisesse, mas porque alguns o enxotavam. Quando se nos dirigia, exibia um sorriso sarcástico, parecendo querer provocar irritação. Se calhar era apenas um esgar que não controlava. Um fácil aparvalhado e ainda por cima era um refilão, defeito que procurava disfarçar, com bajulice, servilismo encapotado num trejeito untuoso. O seu aspeto fisico também não ajudava. A verdade é que ninguém se lembra de alguma vez ter recebido correio uma carta da mãe ou de um amigo conhecido. Olha lá a tua mãe já te escreveu? ou tu é que não sabes ler? O Cantiflas atalhou de forma provocatória, respondia com evasivas, como se o assunto o incomoda-se. Bem os pormenores não interessam, nem os sei reproduzir. Isto pode explicar a pouca popularidade, entre a malta não era apenas falta de jeito, para arranjar amigos parece que não seria, lá muito popular para os seus familiares, de quem aliás nunca falava. 

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72.                            

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