quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Eu Bernardino Peixoto fui preso num subterrâneo no Lunho Moçambique.



No Lunho fui preso num subterrâneo de um posto de sentinela: 

O rigoroso regulamento da disciplina militar, de que se dizia ser incomparável alimentava  boa  parte do anedotário, de caserna. Entenda-se seria de todo desnecessário e isso porque, bastaria entender as regras principais, cuidado com o que dizes" vê lá o que fazes" o que significava, que até isso porque para não cair nas suas malhas. Naquele tempo, dormir era razoável a probabilidade de se infringir um qualquer dos seus inúmeros, artigos. No Lunho não havia cadeia, as penas de prisão eram compridas, no fundo de um subterrâneo tenho memória de ter sido enclausurado, cujo o meu Comandante de Companhia António Cardoso, exigente e imperativo não admitia desculpas. o local escolhido ter sido logo ali naquele subterrâneo onde um animal de quatro patas acabava de dar à luz onze cachorros, fui preso sem camisa, foi-me retirada a minha arma, meus cinturões, enfim o cubículo era bastante apertado, que tive de tentar dormir uma soneca em condições desumanas. Um refilão preguiçoso, um negro de nome Agostinho, exagerou pois se encontrava embriagado, ultrapassou o desculpável e foi além da capacidade, de tolerância aplicada ainda com algumas atenuantes, infernizou a minha paciência, eu já me encontrava visivelmente agastado, com os palavrões, saquei do meu cinturão, o atingi numa das suas orelhas, de imediato foi socorrido pelos seus camaradas, até à enfermaria. O meu Comandante acompanhado pelo segundo, Aníbal Curto Ribeiro, e o furriel Afonso em pouco tempo entravam na caserna, ao ver a situação me deu voz de prisão, fui conduzido ao subterrâneo, pelo furriel Afonso que lamentou o procedimento do meu comandante.  Estar preso implicou não ser escalado, para o respetivo posto de sentinela. Eu achando que tudo aquilo foi um abuso de poder  visivelmente fiquei agastado, com o suposto castigo. para completar o quadro!!..O negro transferia-se à noite para a sua cama, na caserna, depois de ter alta da enfermaria!!!. Feliz da vida e apostado de ter cumprido o castigo, dentro do subterrâneo que me foi imposto. Creio que nunca fiz inimigos, mas também não consigo identificar os amigos, o Agostinho era um negro comum, sem nada de especial que se lhe aponta-se, a não ser quando bebia mais que a conta. a cerveja era barata, e havia quantidades generosas, que apenas se manifestava, quando toldado, por cervejas um pouco em quantidade. Claro que nestas coisas, à sempre exceções. A bebida queimando o seu fraco senso, fazia às avessas daí o resultado, de ameaças, o único que sofreu na pele fui eu. O castigo da providência senti de forma dolorosa.

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72                         
 

terça-feira, fevereiro 22, 2022



A MINHA VIAGEM PARA A GUERRA DO ULTRAMAR:
Acabadas as seis semanas, do IAO!! no Regimento de Infantaria n.º1 na Amadora, e depois de um curto período de férias de "despedida" eramos mais de cem homens, que compunham a Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões, considerados prontos como carne  para canhão, para o teatro de guerra, em Moçambique!..  Esta era a primeira etapa da minha viagem, numa tarde de 12 de novembro de 1972 terminou junto ao aeroporto de Lisboa foi uma das mais angustiantes, de que me recordo, em toda a minha vida, e julgo não só para mim, como para todos nós, pois era a primeira prova concreta, de ser verdade aquilo que me esperava: A Guerra! O "NIASSA",  "O LUNHO"O avião dos TAM Boeing707 preparado na pista, pronto a voar para Moçambique, até fazer a escala para o seu reabastecimento, em Luanda.  Não retenho grandes lembranças, sobre Luanda!!! quando o Boeing, já sobrevoava, nas alturas nos apercebemos, que estávamos em território Moçambicano. Corria aquele mês novembro de 1972, e o calor fazia-se sentir em toda a sua pujança. Um ar quente saturado de pó, como uma bofetada de boas vindas, quando abandonamos a barriga da aeronave. Segui maquinalmente com os meus camaradas, olhando em redor como que anestesiado, pela  desolação envolvente sem me dar, conta pelo menos no imediato, de que aquele exíguo espaço perdido. No dia 19 de Novembro de 1972 acabávamos de chegar a um local onde a mata, numa sucessão infinitesimal,  de coisa nenhuma. para lá do limite do arame farpado, se encontrava aquele aglomerado bairro de latas, construído em chapas de zinco e outras em artesanal em blocos, e tijolos. O conforto  provocado pelo calor intenso simplesmente institui que o nome do local que nos havia saído em sorte mas sem qualquer informação, do que me esperava o Lunho  é verdade que tomei a consciência de que estava num local,  onde não havia rede elétrica publica. Por ali não havia eletricidade permanente, um gerador que só funcionava nas escassas três a quatro horas quando a noite caía, isso não seria suficiente para alimentar as arcas congeladoras, eram alimentadas a petróleo. Fomos recebidos pelos velhinhos, era sempre servida como praxe, de boas vindas como checas. Velhinhos esses que ali habitavam, à bastantes meses, tempo suficiente para serem rendidos, depois de fazerem a entrega do local, a Companhia de Caçadores 33 92, seguiram marcha para outro local, nós ficamos perdidos, no meio daquele capim, naquele  ermo, sem viva alma em seu redor, bem conhecido do Niassa o buraco do « LUNHO» 
(CIDADE DE MINAS GERAIS

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72          
 

 MADRINHAS DE GUERRA:

As madrinhas de «guerra» eram moças solteiras sendo muitas vezes os respetivos endereços, trocados por nós militares. Muitas vezes as pessoas, escreviam sem se conhecer pessoalmente mas alguns desses casos, resultaram em casamento. Ao fim de algumas cartas e aerogramas trocados, as madrinhas" enviavam  fotos de corpo inteiro, para mostrarem o que valiam, vestiam a sua melhor roupa faziam a sua melhor pose  para se mostrarem. Os "aerogramas" disponibilizados pelo Movimento Nacional Feminino, não precisava de selo  era transportado gratuitamente, pelos aviões da TAP. O saco do correio, era transportado para o Niassa, e depois para o Lunho, duas vezes por semana, num pequeno avião que os velhinhos batizaram com o nome de "Pêga" Sempre no momento da distribuição do correio, aguardado  com particularidade por todos nós, guerreiros!. Eu tinha umas cinco ou seis "madrinhas" recebia uns vinte aerogramas por mês, com algumas cartas à mistura. De que eu falava? falava de tudo era uma espécie de eu despejar o caixote. Falava de ser um herói, falava de solidão, falava de medo, e falava de malandrices.

Crónica de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:    

O Adeus ao Lunho 23 de março de 1974

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Esposas Namoradas e Madrinhas de Guerra

 

Marta Martins Silva escritora e autora deste livro cartas de Amor e de Dor, Esta simpática senhora como jornalista e escritora, resolveu escrever as nossas histórias dos antigos combatentes do Ultramar, muitos lhe enviaram seus textos, subscritos a esta senhora fazer a revisão dos mesmos. Os antigos combatentes da guerra do Ultramar, em forma de um diário pessoal onde as nossas escritas delirantes, prometem desafiar os leitores, a descobrir qual a realidade do mundo, em que nós vivemos e como foi o desenvolvimento das nossas experiências traumáticas, em terras de África quando ainda eramos muito jovens. Parabéns senhora jornalista e escritora, Marta Martins da Silva todos nós combatentes da guerra do Ultramar, lhe agradecemos de colocar cá fora as nossas histórias que já se encontravam guardadas no baú das recordações. o que foi o nosso sofrimento em tempos de guerra em plena juventude.       

sábado, fevereiro 19, 2022

                                    Bernardino Peixoto soldado corneteiro 017516/72: