quinta-feira, setembro 12, 2024

Barbearia do Lunho Moçambique 1972 a 1974.

 Se outra coisa não houvesse, as rígidas regras do ativo militar obrigariam à existência de uma barbearia. No Lunho havia uma, ali na parte lateral da minha caserna, em frente à porta do depósito de géneros, localizado junto da padaria. E tendo de haver um barbeiro mas alguém que na vida civil, já tivesse exercido a profissão, já que bem me lembro esta especialidade, não era ensinada na tropa. O problema é que, com vinte anos a experiência de quem quer que tivesse sido, profissional na arte, seria pouca ou nenhuma no manuseio de ferramentas, mecânicas de cortar o cabelo, houvesse de pouco serviriam, já que a eletricidade era um bem raro que apenas estava disponível, ao cair da noite até à hora do recolher e, ainda assim sujeito aos humores e achaques do pequeno gerador. Recordo contudo que nem toda a gente recorria aos préstimos do barbeiro, encartado cujo a especialidade era a de fazer a serventia, no depósito de géneros, arte para quem não revelava jeito especial. Era uma situação igual a outras na tropa. Os estrategas escolhiam quem bem entendiam, para o desempenho de ofícios vários sem se preocuparem, se os selecionados tinham vocação ou não. Mas enfim tudo se passava sem grandes problemas recorrendo-se, à arte bem amiúde arte maior do desenrasca. O  primeiro Cabo de apelido (Branco) transformado no homem dos sete ofícios, escondido na frente da porta do depósito de géneros, estalava-se ao ar livre, perto da padaria com uma crescente clientela a entregar-se nas mão do improvisado artista, que não perdia a oportunidade, de inventar cortes da moda, muito apreciados pelas hierarquias militares. Com ferramentas, apenas possuía uma tesoura e um pente.

Texto de Bernardino Peixoto

                                Antigo combatente da guerra do Ultramar Moçambique.                         

 

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