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sábado, março 05, 2022
Posto de Sentinela no Lunho Moçambique 15 Fevereiro de 1973:
O posto de sentinela estava plantado, entre a cozinha, e o depósito de géneros, era um espaço com evidente aspeto de vigia. È verdade foi ocupado por mim, depois de um curto espaço de tempo, que durou a minha refeição. Ali se encontrava um dos meus camaradas que eu iria render, pelas 14 horas, este posto de vigia era desprovido com uma tosca estrutura, de barrotes em madeira, coberto com uma chapa ondulada, retorcida e ferrugenta. Levei comigo uma revista (crónica feminina) saquei de um cigarro "FN" manifestava de várias formas, enquanto lia segurava o cigarro espremendo fortemente entre os dedos, esquecia que o tinha na boca, deixava o morrão de cinza alongar-se, até cair naturalmente onde quer que fosse, ou sacudia-o violentamente quando a proximidade de incandescência, me queimava os dedos. Parei um pouco a leitura, neste posto de sentinela abraçava um curso de água que se transformou num pântano, a sua extensão se alongava a perder de vista. O perigo se passou comigo, naquele posto de vigia, comparando com a minha total ignorância ao ver um guerrilheiro da Frelimo, seguindo pela pista de aviação com a sua arma, e seus pertences, eu encurralei o guerrilheiro num gesto de defesa, aqui transcrevo a discrição, do Samuel que melhor que ninguém conhecia aquelas matas. O guerrilheiro quase passava despercebido, não fora duas ou três situações extremas, que me marcaram e o facto de eu ter os olhos arregalados, quando lia a revista. Os guerrilheiros da Frelimo tinham as suas bases implantadas muito perto do aquartelamento do Lunho!! No silêncio as tonturas que me assolavam, deram as suas máximas mais recordadas. O meu turno terminava, como delicadamente se culpasse o meu desconforto, balbuciou num lamento quase suplicante. Conduzi o guerrilheiro ao meu Comandante de Companhia António Cardoso Capitão Miliciano o qual verifiquei que transportava consigo a sua arma, uma saca em pano com uns simples miseráveis grãos de arroz cru, e uma colher de pau. Depois da minha rendição daquele posto de vigia, sem nostalgia ou satisfações, dirigi-me à minha caserna, coloquei a minha arma, vime de novo na parada onde, se encontrava aquele negro, sentado rodeado dos meus camaradas. Olhei com muita tristeza, ao ver um inocente como eu lutando por uma guerra que não fazia sentido. Tenho na minha memória que o nosso Cabo quarteleiro, Serra Henriques lhe preparou uma cama, com lençóis e cobertores, e como paga do reconhecimento da amizade, das nossas tropas, e o carinho, o guerrilheiro lhe ofereceu como prenda a colher de pau. Foi enviado para Vila Cabral, pouco tempo depois, o encontrei novamente no nosso aquartelamento, aquele homem me abraçou, e desabafou comigo que esteve ao fundo da pista de aviação, deitado com a sua arma, apontada em minha direção, se o rebelde prime o gatilho da sua arma, era mais um soldado da Metrópole que tombava na flor da idade. Isto me aconteceu uma única vês, que deixou trauma, em não desaparecer apenas recordações de tão marcantes, não consigo apagar e já lá vão quarenta e nove anos. Texto de Bernardino Peixoto Sodado Corneteiro 017516/72 .
sexta-feira, março 04, 2022
"A MINHA EVACUAÇÃO PARA O HOSPITAL DE VILA CABRAL" MÊS DE SETEMBRO DE 1973 :
Não sei como é hoje. Naquele tempo, alimentar tropas era uma tarefa complicada. A verba era escassa, a janta nunca estava ao gosto de todos a variedade não variava, não abundava, a imaginação dos cozinheiros escasseava e a falta de jeito da grande maioria agravava tudo. Eram homens formados à pressa, escolhidos com base em critérios que nunca cheguei a perceber. Creio que poucos deles alguma vez tivessem ido além de estrelar um ovo. A verdade é que a tropa transformava pedreiros, carpinteiros, jardineiros e afins em cozinheiros temporários que, após cumprido o serviço militar, voltavam às suas atividades iniciais. Se transportar tudo isto para a realidade, no Lunho as coisas pioravam. A cozinha não ajudava, o combustível era a lenha colhida na mata, os tachos eram negros e grandes, e o calor tomava a tarefa do cozinheiro e seus auxiliares, um martírio. Agravar tudo isto, os ingredientes escasseavam, a ração era parca e nem ingredientes haviam para confecionar uma sopa dita. Na verdade a variedade do rancho, oscilava entre massa com carne, e a carne com massa substituída de tempos, em tempos por feijões. Bifes, nem velos e o peixe era indesejado. de vez em quando, lá vinham umas salsichas, uma feijoada com uma ou outra rodela de chouriço barato, umas ervilhas enlatadas e pouco mais. Ah! havia ainda a dobradinha. O ingrediente chegava seco desidratado, em forma de pequenos pedaços parecidos com flocos que inchavam quando posto de molho. Dobradinha com feijão, amamentada com uma colherada de arroz, era assim um dos petiscos que primita desenjoar da massa, mas que não nos livrava dos feijões, que engrossavam o molho com aspeto amarelado, de cola liquida condimentada com chouriço, estrategicamente misturado para dar gosto e onde os mais gulosos ensopavam o pão. Exigir dotes de prestigiado, tanto mais que os ingredientes não estavam disponíveis. No Lunho não havia nem de perto nem de longe, uma tosca tasca ambulante improvisada, a não ser uma pequena cantina, dentro do aquartelamento. O cantineiro (ROCHA) que se encontrava atrás do balcão, vendia as bebidas com carimbo de isenção, mas eu pagava a preço corrente. A cantina era explorada pelo nosso 1.º Sargento Bizarro, que vendia o tabaco, a cerveja, outras bebidas, e pouco mais. O reabastecimento era feito por coluna, os frescos eram transportados por um pequeno avião que nos visitava duas vezes por semana. O vinho era de péssima qualidade. A alimentação no Lunho era muito pobre, talvez foi a razão que eu tive de baixar à enfermaria com o paludismo misturado com fraqueza, o meu estado se agravava cada dia que passava deixei a minha cama, fui transferido para uma outra. O enfermeiro de serviço Valadares Pereira, ao ver a minha situação, fez o pedido à messe dos oficiais a sopa, mesmo assim o meu estado de saúde piorava quarenta e dois de febre, já sentia dificuldades em respirar, apareceu na enfermaria o furriel enfermeiro, ao ver o meu estado de saúde, comunicou para Vila Cabral, no dia seguinte ao amanhecer, já se encontrava um pequeno avião, aterrar na pista afim de ser feita a minha evacuação, para o hospital do Setor "A". Fui conduzido numa auto maca, até ao avião, em pouco tempo eu já sentia um ar, um pouco fresco pois estava aterrar no aeroporto, já se encontrava uma ambulância, estacionada à minha espera para me conduzir à urgência. Fui atendido por um médico, Tenente Coronel que de imediato chamou um dos enfermeiros de serviço, me injetou um litro de soro. O médico disse ao enfermeiro que eu estava pronto para o caixote, fiquei com baixa hospitalar dezassete dias levei na totalidade dezassete litros de soro. Foi assim que naquela unidade hospitalar, que eu sentia os helicópteros da força aérea, resfolegante transportando soldados feridos e outros moribundos do campo da batalha. O médico caminhou com os seus elementos de enfermagem até à minha cama, examinou-me e disse que eu já me encontrava, em boa saúde para regressar, ao meu aquartelamento. Ordens do senhor doutor, levantei-me da cama, com um certo agastamento vesti a minha farda, sem mais delongas não disse nada medi a minha estrutura de cima a baixo, de forma quase impercetível, abandonei o hospital, segui para o interior do aquartelamento de Vila Cabral, esperando a saída de uma coluna militar, para me levar de regresso ao inferno do Lunho.
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