quinta-feira, janeiro 13, 2022
sexta-feira, janeiro 07, 2022
quarta-feira, janeiro 05, 2022
segunda-feira, janeiro 03, 2022
No Lunho com a época das chuvas diluviais, e secas prolongadas, onde a água tinha por vezes mais valor do que o ouro. A vastas áreas em que se desenrolavam as operações, estavam infetadas de doenças terríveis, e marcadas pelos ataques permanentemente por todo tipo de animais, e até os enxames de abelhas, que atacavam sem piedade quem se aproxime das suas colmeias. Não podia ser mais diferente do que das frias e lamacentas, continuas trincheiras da frente ocidental europeia. Escrever foi logo uma forma de manter viva, a esperança de voltar. Além do registo do que acontece aconteceu, se sonha ou se teme escrever era uma terapia. Também era uma forma de encontro com quem está longe. A separação prolongada e dolorosa da minha noiva, do ambiente doméstico e da terra fez da escrita uma prática de sobrevivência para mim que estava deslocado em tempos bélicos. O afastamento de casa, e a distancia em que se encontravam as famílias, pós em movimento as funções da correspondência, fazendo da carta ou do aerograma, o refúgio privilegiado do sentimento da saudade da autenticidade da mensagem para quem dela era digno. Assim o dialogo epistolar assumia um papel de relevo, para quem foi mobilizado, para um sitio da morte. A norma apontava para o envio de uma missiva diária por mim soldado sem contar com muitos populares bilhetes-postais. Para sobreviver na frente da guerra escrevia compulsivamente. Situações difíceis também praticamente não havia, foi um choque grande às vezes a ignorância é uma bênção »,acreditem. Eu com 21 anos apercebi-me do perigo, nunca me aconteceu houveram soldados que morreram, mas não fui eu mas o perigo nunca me acontece. Sabia que estar no Lunho em Moçambique não foi um passeio no parque, mas os 21 anos deixavam aquilo transformar-se quase numa aventura. Eu era um miúdo fui criado em Aveleda Braga, depois oriundo de uma aldeia da cidade da Maia, qual era a experiência que eu tinha de selva, ou de guerra ou de qualquer coisa do gênero? Absolutamente nenhuma. Vivia como conseguia encontrar, quando ia para uma operação, comida desidratada dobrada feijão e latas de sardinha ou de atum que me era fornecido do depósito de géneros. Quando recebia uma carta da minha noiva, era uma alegria, não havia segredos entre nós Não eram preciso laços de sangue, a unir aqueles que a vida militar juntou para sempre nós militares distantes dos seus e da terra, fomos família uns dos outros naquelas paragens longínquas onde tivemos de aprender a matar para não morrer.
Na Metrópole as noticias que chegavam, sobre o que se passava em Moçambique, eram escassas. Os jornais afetos ao regime, eram parcos em palavras. O que interessava ao estado era mobilizar a sociedade para a guerra e isso acontecia elevando o soldado a herói, a alguém que vai servir a pátria. na verdade, nenhum de nós sabia exatamente o que ia para lá fazer naquela terra longínqua, naquele mundo desconhecido e tão diferente do sitio onde haviam nascido, e crescido até o Marcelo Caetano nos enviar para longe. A censura militar focava-se num tema tabu, fazendo alterações de forma, a que não fossem dadas informações aos elementos inimigos. Era também a censura militar que proibia referências positivas, em ralação aos movimentos de libertação denominados terroristas, turras, bandoleiros, ou bandidos. Aliás qualquer referência à oposição, e às suas principais figuras era cortada mesmo que a prosa, não fosse elogiosa para essas figuras, porque tudo o soasse a oposição, feria a vista dos censores.
Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:
domingo, janeiro 02, 2022
Guerra do Ultramar Niassa Lunho Moçambique 1972 a 1974.
A minha situação no Lunho Moçambique, para mim foi um choque muito grande eu e os meus camaradas da companhia, eramos indestrutíveis. Com 21 anos de idade nos apercebemos do perigo, mas nada nos acontecia a nós houve soldados que tombaram, mas não fui eu. Sabia que estar em Moçambique no Lunho, não era um passeio no parque, mas os meus 21 anos me deixaram transformar, quase numa aventura. Eu era um miúdo oriundo de Aveleda Braga, depois de uma pequena freguesia do conselho da Maia, qual era a experiência que eu tinha de selva, ou de guerra, ou de qualquer coisa do género? Absolutamente nenhuma. O Lunho era um local desconhecido para mim, a logística era muito degradada umas casernas construídas em chapas de zinco todas furadas dos projeteis das armas dos guerrilheiros da Frelimo. Quando saía para uma operação a minha alimentação era me atribuída a dita ração de combate, alimento composto por latas de sardinha de conserva e atum, eu ia sobrevivendo com alguma fruta que ia apanhando, no mato. Um certo dia fui escalado para mais uma rotineira operação para o mato, caminhando pelo capim no inicio enchia o cantil em poças de água, os rios por onde passava estavam totalmente secos, Já no regresso ao aquartelamento do Lunho ao meio da tarde, o céu ficou muito escuro, via-se os relâmpagos a cruzarem-se no ar, e ao mesmo tempo rebentavam no solo, pairou sobre nós um grande diluvio, com várias trovoadas, ventos fortes que varriam as arvores e tudo que se encontrava na frente, tivemos que nos abrigar com o ponche debaixo das arvores mais fortes para não sermos atingidos pelos ventos. A tempestade se afastava, foi nos ordenado que teríamos de seguir a marcha, ao encontrar o rio Lunho, para atravessar para a outra margem, foi necessário utilizar uma catana, para derrubar uma árvore afim de fazermos a travessia para a outra margem, abraçados à mesma. No Lunho com a época das chuvas torrenciais, e secas prolongada, onde a água tinha por vezes mais valor do que o ouro. As vastas áreas em que se desenrolaram, as operações estava infestadas, de doenças terríveis e marcadas, pelos ataques permanente por todo o tipo de animais e enxames de abelhas, formigas e o Feijão macaco: A separação prolongada, e dolorosa da minha namorada, do ambiente doméstico e da terra, fez da escrita uma prática de sobrevivência! O afastamento de casa, e a distância que se encontravam as famílias pôs em movimento as funções da correspondência, fazendo das cartas, e aerogramas, o refugio privilegiado, do sentimento da saudade, e da autenticidade da mensagem, para quem dela era digno. A norma aponta para o envio de uma missiva diária por soldados, sem contar com os muitos populares bilhetes-postais, para sobreviver na frente da guerra, escrevia compulsivamente.
Nesta cozinha também comi arroz com caganitas de rato e uma salsicha, comi carne de vaca ou de burro que alguém tinha rejeitado. O vinho da velha cepa não chegava a estas paragens, chegava sim uns barris cheios de água do Lago do Niassa, com um pouco de tinta vermelha, e outros cheios de vinagre. Mesmo assim o vinagre e a água colorida, era racionalmente servido por um elemento da secção da cozinha com uma lata de cerveja cortada pelo meio. A sopa era confecionada com água, Feijão preto, arroz, e couves da machamba, que era boa para alimentar «porcos». O zé soldado diariamente, fazia uma visita à enfermaria para lhes ser administrada um concentrado de comprimidos, e injeções cavalares de vitamina, nas veias. Os protagonistas era um problema, sem por evidencia que estavam envolvidos, num drama de todos nós seres humanos. estavam focados na guerra, e nos mantimentos que pertenciam a todos nós soldados, que tínhamos direito, muitas vezes eram desviados, pelos funcionários da cozinha, A rede funcionava durante vinte e quatro horas, incluindo a hora das refeições, passei momentos de muita expectativa, entre o viver, e o parecer. Neste aglomerado de latas e canas de bambu, sofri a mágoa, e a ausência dos meus familiares. A contextualização politica do nosso 1.º sargento Bizarro e o 2.º Sargento Cruz, este sempre aparecia diariamente, a passar a ronda à cozinha, isto era uma guerra feita de pessoas, comuns com todos os condicionalismos como, eramos apenas uma simples companhia Independente. A alimentação deveria ser igual para todos os elementos deste grupo bélico, contudo eramos de carne e osso e as divisas ou galões, pouco nos deveria dizer. Esta cozinha tinha dependurado num dos barrotes, um ferro que fazia de sineta para chamar todos nós que era hora das refeições. Os componentes que faziam parte desta cozinha esses também eram os melhores do Lunho, faltava-lhes apenas o casaco branco, e as boas maneiras de todo o empregado que se batia à gorja. No Lunho o pessoal sujeito à alimentação que se verificava, o 1.º cabo cozinheiro desviava da cozinha, a melhor carne, e o vinho da velha cepa, que era destinada para todos nós, o empregado do depósito de géneros, também entrava nessas andanças. Um dia 1.º cabo cozinheiro responsável pela cozinha, ficou surpreendido e incomodado pela minha presença, quando os fui encontrar, dentro da sua caserna. Eu vi com os meus olhos, um banquete com alimentos desviados da cozinha. Convidava os amigos mais próximos, e aqueles com quem simpatizava, isso era uma concordância. O nosso comandante, oficiais e sargentos nada fazia, para acabar com os petiscos roubados, ao zé soldado que ali habitavam naquele buraco do Lunho. Eu era de carne e osso e vivia como eles, naquele isolamento.No Lunho Moçambique, nós soldados vivíamos com os ratos, as condições eram horrendas ,
Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:
Nesta cozinha também comi arroz com caganitas de rato e uma salsicha, comi carne de vaca ou de burro que alguém tinha rejeitado. O vinho da velha cepa não chegava a estas paragens, chegava sim uns barris cheios de água do Lago do Niassa, com um pouco de tinta vermelha, e outros cheios de vinagre. Mesmo assim o vinagre e a água colorida, era racionalmente servido por um elemento da secção da cozinha com uma lata de cerveja cortada pelo meio. A sopa era confecionada com água, Feijão preto, arroz, e couves da machamba, que era boa para alimentar «porcos». O zé soldado diariamente, fazia uma visita à enfermaria para lhes ser administrada um concentrado de comprimidos, e injeções cavalares de vitamina, nas veias. Os protagonistas era um problema, sem por evidencia que estavam envolvidos, num drama de todos nós seres humanos. estavam focados na guerra, e nos mantimentos que pertenciam a todos nós soldados, que tínhamos direito, muitas vezes eram desviados, pelos funcionários da cozinha, A rede funcionava durante vinte e quatro horas, incluindo a hora das refeições, passei momentos de muita expectativa, entre o viver, e o parecer. Neste aglomerado de latas e canas de bambu, sofri a mágoa, e a ausência dos meus familiares. A contextualização politica do nosso 1.º sargento Bizarro e o 2.º Sargento Cruz, este sempre aparecia diariamente, a passar a ronda à cozinha, isto era uma guerra feita de pessoas, comuns com todos os condicionalismos como, eramos apenas uma simples companhia Independente. A alimentação deveria ser igual para todos os elementos deste grupo bélico, contudo eramos de carne e osso e as divisas ou galões, pouco nos deveria dizer. Esta cozinha tinha dependurado num dos barrotes, um ferro que fazia de sineta para chamar todos nós que era hora das refeições. Os componentes que faziam parte desta cozinha esses também eram os melhores do Lunho, faltava-lhes apenas o casaco branco, e as boas maneiras de todo o empregado que se batia à gorja. No Lunho o pessoal sujeito à alimentação que se verificava, o 1.º cabo cozinheiro desviava da cozinha, a melhor carne, e o vinho da velha cepa, que era destinada para todos nós, o empregado do depósito de géneros, também entrava nessas andanças. Um dia 1.º cabo cozinheiro responsável pela cozinha, ficou surpreendido e incomodado pela minha presença, quando os fui encontrar, dentro da sua caserna. Eu vi com os meus olhos, um banquete com alimentos desviados da cozinha. Convidava os amigos mais próximos, e aqueles com quem simpatizava, isso era uma concordância. O nosso comandante, oficiais e sargentos nada fazia, para acabar com os petiscos roubados, ao zé soldado que ali habitavam naquele buraco do Lunho. Eu era de carne e osso e vivia como eles, naquele isolamento.
Para completar e dado que o jantar para quem era praça, era servido bastante cedo, porque faltavam condições para ser servido com luz artificial, necessitando de aproveitar a luz solar. O meio era tão pequeno que nada se fez sem pensar na mínima coisa, embora insignificante sem que todos os componentes deste grupo belicoso o soubesse!!!!!! Existiram contudo coisas que em qualquer outra parte eram impossíveis. A comida nesta cozinha não interessava a ninguém, é claro que na guerra era obrigado pela necessidade de comer de tudo, No mato bebia água dos charcos com um comprimido à mistura.
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