terça-feira, julho 22, 2025

Noroeste do Niassa Ocidental Lunho Moçambique 1972 a 1974.


 Incutidos desejos de quase tudo, o que deixara para trás impilam-me a uma fuga do Lunho. Mais de um ano havia passado desde que, sem data de regresso agendada, fui largado no meio daquela terra de ninguém para onde não confluíam estradas e aonde ninguém estava interessado em ir a  não ser que a isso fosse obrigado. E nem o facto de partilhar aquela autêntica viagem à pré história com mais de 140 homens evitou que, de quando em vez, me sentisse na pele de Robinson. Não estávamos numa ilha, mas a ausência de tudo de contacto com o mundo exterior quase me convencia do contrário. Um pequeno avião trazendo o correio duas vezes por semana, às terças feiras e se repetia às sextas trazia os frescos o reabastecimento no Lunho era feito por viaturas uma vez por mês eram as únicas visitas a que tínhamos direito. A nossa vida estava confinada a um singelo quadrado delimitado por uma tosca cerca de arame farpado, onde pouco  mais de uma centena de homens fardados ou quase, faziam companhia uns aos outros à medida que o calendário se arrastava penosamente na contagem lenta dos dias. À volta apenas mata, atravessada aqui e ali por picadas formadas pelos rodados das viaturas que, saindo daquela espécie de acampamento, levavam a lugar nenhum. Vivíamos assim no meio da natureza selvagem, na sua maior parte nunca tocada e sem nada de permeio. Nem muros apenas uma frágil cerca de arame farpado nos separava da mata imensa. Sair do perímetro  e trilhar aqueles caminhos, implicava riscos a exigir cuidados especiais, obrigando a carregar equipamentos de combate, nem que a saída se destina-se apenas a recolher, a pouco mais de dois ou três quilómetros, a lenha necessária para a cozinha ou para aquecer o artesanal forno da padaria. Vivia-se assim uma espécie de claustrofobia em campo aberto que alimentava o tédio e condicionava os comportamentos. Sem terem para onde ir, alguns procuravam enganar o juízo vestindo a inútil roupa civil guardada no fundo da mala e passeavam-se enterrando os sapatos, na terra para percorrer os escaços cinquenta metros que separavam a caserna do barracão onde funcionava a cantina. Tudo apenas pelo prazer de beber uma cervejas com indumentária colorida, em busca de memórias das explanadas da grande cidade.no Lunho não havia nada. As localidades mais próximas resumiam-se a Metangula onde se encontrava o lago do Niassa ficava a cerca de quatro horas, de viagem pela picada do Lunho empoeirada, a cidade mais próxima Vila Cabral cerca de uma hora de avião que ninguém estava interessando em visitar. As berlietes  e os animogues que constituíam a frota da Companhia de caçadores 41 41 os Gaviões andavam por onde fosse preciso seguindo as direções que os condutores, entendiam serem as melhores. Assim o dia a dia monocórdico e quente, não variava dormia numa caserna sempre com as mesmas pessoas, por companhia já conhecia os diversos timbres do ressonar de cada um, e os seus tiques e manias. Ao almoço e jantar ocupava o mesmo lugar sempre na caserna com as mesmas conversas e tendo por companhia os mesmos companheiros da pernoita. Discutiam-se futilidades, que ali as novidades não chegavam ou só vinham de quando em vez nas linhas de um aerograma ou ouvidas num pequeno rádio em imissões para entreter os militares.                                            

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