sábado, abril 02, 2022

Operação de dois grupos de combate para os lados dos Montes do Chissindo : 1973.


Formados na parada:
 Chegou a hora, ajeitaram-se os equipamentos e foi feito os últimos preparativos para o inicio da caminhada, tarefa que não ficou esquecida, certa vês ali para os lados do monte do Chissindo encontramos, uma base com algumas palhotas abandonadas. Quem comandava os dois grupos de combate, era um   furriel  das operações  difíceis, o calor era insuportável de várias operações que eu participei. Acima dos trinta graus, o que conjugado com o elevado grau de humidade do ar, fazia com que o céu parece-se pesar sobre os ombros, tornando-se ainda mais penoso o caminhar. não retenho qual o objetivo da ação, mas suponho que,  como tantas outras, se destinava a percorrer determinado itinerário, numa qualquer missão de patrulhamento. Bem cedo palmilhando  aquelas matas, durante toda a manhã, de momento seguíamos a corta mato dificultando a marcha exigindo o redobrar do esforço. A hora do almoço acampamos num espraiado, à sombra das árvores próximas. Retirei do meu saco as latas da ração de combate, que fui abrindo ao som, do surdo telintar da faca do mato, cortando o metal e sem pressa o petisco sensaborão foi sendo mastigado, juntamente com as côdeas do casqueiro  duro, cozido na véspera e já esborrachado pelo peso de tudo o que cada um enfiara no saco. Depois do estômago composto, preguiçamos jacentes, sobre as ervas alguns dormitavam, num quase inútil exercício de preparar o corpo, para a inevitável e extenuante caminhada, que duraria até ao anoitecer. Entre um dos nossos viu aparecer no meio do capim, aquelas cabeças de cabelo encarapinhado, avisa o comandante de secção, que era das operações difíceis esses dois homens caminhavam por um trilho com elevada inclinação, o comandante da operação se colocou atrás de uma árvore, espera a aproximação do alvo, faz a pontaria prime o gatilho da sua arma, na hora exata. Um deles se pôs em fuga, o que seguia na frente foi atingido mortalmente, caiu por terra. O moribundo trazia na mão, além da sua arma que não chegou a utilizar, uma cana de açúcar com a qual tomava o seu pequeno almoço. O cadáver prostrado no chão a mão abriu e a cana ficou entre os dedos do moribundo. O caçador especial que atingiu o rebelde, foi procurar a arma do rebelde, viu a cana, viu o sangue de um homem, viu o efeito da sua arma, viu o que o seu dedo provocou, viu um cadáver prostrado por terra, viu um homem sem vida, viu os buracos dos projéteis da sua arma. Voltou para junto dos seus camaradas de campanha, a transpirar, mas sentindo bastante frio que lhe causava arrepios. A operação termina voltamos ao aquartelamento o furriel  trás o seu trofeu do campo de batalha. A principio ninguém deu importância, mas o facto é que eu vi um ser humano ser abatido não dissipava qualquer duvida que pudesse existir isso significava, que o Zé turra tinha o hábito de nos seguir. Hoje passado quarenta e nove anos, ainda trago na minha memória! já  quase ninguém se lembra, foram compridas todas as regras impostas pela segurança para que nenhum de nós fosse alvejado.

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72.                                

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