quarta-feira, novembro 24, 2021



 Durante tanto tempo que durou a nossa estadia por terra de  Moçambique, um dos desejos mais frequentes, que alimentava o sonho da rapaziada, era sem qualquer margem para duvidas o momento de que comprida a comissão, se regressaria a casa. Enquanto durou a nossa via- sacra, pelas terras inóspitas e picadas de Moçambique, isso era algo que parecia muito distante quase inacessível. Mas aos poucos naquela exasperante lentidão, espinhosa teimavam em empatar e porque o tempo não para, os dias foram sucedendo às noites, os meses preenchendo-se e o tempo passando até àquele dia memorável, em que nos tiram dali, despejando-nos no aprazível sossego de Malema, È verdade que nos sentimos verdadeiramente, compensados dos tratos sofridos no meio das picadas nas terras- do- fim-do mundo. contudo, não obstante este episódio da Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões. Todos se lembrarão que por alturas do mês de setembro de 1974 correu a celebre noticia, de que que a saída de Malema, seria no dia 30 de Setembro. Nós estávamos na expetativa quando por ali chega-se os que nos vinham render. Aguardando o embarque na estação de Malema, estávamos livres da porta  de armas, postos de sentinela, das operações e das exigências militares, a coisa esmoreceu um pouco. Seguimos num comboio até Nampula aguardando embarque para a cidade da Beira onde desembarcamos à nossa chegada. Assim sendo aproveitou-se tanto quanto possível o afrouxar da disciplina, usufruindo de tudo o que a cidade tinha  para oferecer. Alguns mudaram-se para  pensões, para facilitar as pernoitas e comer bem, por menos dinheiro calcorreavam-se as explanadas, bares, e compensaram-se as privações passadas, até com cada vez maior acerto, A última noite passada em Nampula, aquilo que começou a ser um simples jantar, num qualquer restaurante, virou noite de farra. esvaziaram-se garrafas, misturou-se cerveja, entendeu-se que a ultima noite seria de desbunda. ultimo dinheiro em  notas Moçambicanas e até moedas, creio que se foram. Retenho na memória o desembarque em Lisboa, no aeroporto de Figo Maduro no dia 15 de outubro de 1974  noite fria e húmida, que contrastava o cacimbo de Moçambique. Despedi-me definitivamente  ali mesmo da minha farda, quase sem sem me despedir dos meus camaradas . Mas olhando assim à distância do tempo ainda me interrogo como foi possível ali viver durante tanto tempo tão longe de tudo o que se assemelha-se da civilização. 
O sistema cógnito da beleza selvagem, porem feérica e de personalidade forte, tiveram em mim um efeito devastador. Gravadas pela força dos sentimentos, permanecem vivas e bem arrumadinhas nos ficheiros das memórias, cujo gavetas vou abrindo aqui e ali a cada das lembranças que vão alimentando estes meus escritos. Não.......não é saudosismo, apenas recordações, que de tão marcantes, não consigo apagar e já lá vão cinquenta anos.            .


Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72               

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