A escrita da minha correspondência à minha noiva:
Amor tu não imaginas, o quantas vezes eu olhava para as tuas fotografias. Quantas vezes eu levava a tua correspondência, e as tuas fotos nas algibeiras do meu camuflado, quando tinha saídas para o »mato«, quantas vezes eu olhei, â luz de uma gambiarra que teimava vacilar, tal como eu, quando a saudade apertava, e o nó na garganta, não me deixava respirar. Tu nem imaginas o quanto era receber uma carta, ou um aerograma, e como prémio extra uma fotografia, no meio das folhas escritas. Não imaginas o silencio na minha caserna, transformava-se numa igreja, e a minha imaginação voava, de um momento para o outro, e voltava como milagre. Tinha a sensação, de ouvir a tua voz e o calor do teu corpo. As tuas cartas, e aerogramas, eram lidas e relidas, através delas eu regressava em pensamento, à tua rua. a casa dos teus pais, e daquele velho portão, onde juramos, um amor eterno e onde nos beijamos pela ultima vez, na minha partida para a guerra. Prometi voltar mas eu já não era o mesmo, estou a escrever com a mesma mão, com os mesmos dedos, com os quais eu primo o gatilho da minha arma, ou lanço uma granada. Olha enquanto escrevo, tenho saudades de segurar, as tuas mãos. Foste a minha ancora, foste tu que me ajudaste a regressar.
Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:
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