sábado, setembro 08, 2018

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1 comentário:

  1. Trotil
    O passarito estava calmo e pousado em cima de um torrão fumegante. Fui-me aproximando dele e para meu espanto deixou que o apanhasse não fazendo qualquer movimento para fugir.
    Levei-o para o arbusto mais perto que encontrei e no meio da folhagem deixei-o empoleirado.
    Não há duvida que aquela formiga branca é “levada da breca” para roer tudo o que seja madeira.
    O barulho ritmado de milhares de “mandibulas” na madeira dos cunhetes ecoava misturado com o cheiro bafiento e quente que entrava pelas narinas sempre que descia as escadas e mergulhava no lusco fusco daquele buraco transformado em paiol.
    E aqueles “diabinhos brancos” conseguiram que as cintas de cobre das granadas anti-carro ficasse de tal maneira oxidados que em “batidas á zona” o contacto elétrico não se fazia por mais gatilhada que o artilheiro desse. E lá voltavam as ditas para o cunhete roído e novamente para o interior do paiol.
    E nesta dança entrava eu e o Perdigão, mudando de sítio tudo quanto era cunhete.na vã tentativa de atrasar a roedeira daquelas incansáveis criaturas.
    A juntar aos cunhetes umas quantas “bananas” de trotil já a “babarem-se “de velhas levou.me a questionar o nosso maior da necessidade de eliminar tudo aquilo antes o “diabo as tecesse”.
    Feitos os trâmites necessários para os maiores de Vila Cabral, lá fomos em duas “berlis” numa pequena “força” de minas e armadilhas para o fundo da pista, levando os cunhetes recheados e o trotil a fazer desaparecer.
    Cavado um pequeno buraco a pá e picareta (que a terra era dura) fez o Soares um pequeno rebentamento de modo a que a trincheira aberta desse espaço para colocar mais material.
    Uma após outra lá fomos acamando as granadas de permeio com o trotil. A certa altura começámos a questionar de não seria demais para uma carga única , mas para não correr o risco de alguma dolorosa “simpatia” foi tudo de uma vez de acordo com o responsável da força.
    Toda a gente debaixo das “berlis” alinhada com os eixos e protegida pelos pneus.! Ordenou.
    Nunca um trovão voltou a rebentar tão próximo de mim, nem voltei a ouvir uma chuva de pedras como aquela, provavelmente só escutada e sentida por quem viveu uma erupção vulcânica.
    Na cratera cabia um Unimog. Opinámos.
    Chegados ao quartel fomos informados que os telhados “molejaram” como se peso lhes tivesse caído em cima e por certo os habitantes da Mepoxe devem ter esfregado a barriga de contentamento pensando que o paiol tinha rebentado.
    Não me admiro que o passarito que não era pardal tenha ficado “apardalado”.
    Foi no Lunho lá para meados de setenta e três.
    José Henriques



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