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SPM
Lá vem el e o alarme ecoava pelos quatro do aquartelamento, precipitando uma correria desabrida em direção à pista de aviação. A calma reinante era abruptamente violentada por um turbilhão de homens, atropelando-se à saída da caserna, da oficina auto, da cantina até da enfermaria. As tarefas em curso paravam, o jogo de cartas cessava e a brincadeira, se a houvesse morria. Os preguiçosos ganhavam vida e os dorminhocos acordavam. Fosse o que fosse que estivessem a fazer, era interrompido. De momento apenas interessava o pequeno avião, a pêga que acabava de aterrar no meio de uma nuvem de pó na pista dos Castelões do Lunho, e não era para menos trazíamos o mais precioso noticias de casa todas as terças feiras e às sextas, era sabido que o pequeno avião aterrar ali, deixando correio e outras pequenas coisas, levando no regresso aerogramas, cheios de palavras que transportavam saudades e sabe-se lá mais o quê à mistura que cada um contava aos ente queridos que, lá bem longe aguardavam com ansiedade as noticias, que se desejava não fossem más. Nunca fui muito assíduo de escrever à família que na minha ausência nunca se queixaram das noticias. Ali embora não houvesse grande coisa para contar, o que interessava era que por cada aerograma amarelo, que eu enviava recebia um azul que estava isento de taxa e o papel era gratuito. A importância de receber correio era inquestionável. Constituía o nosso único elo de ligação contudo o que deixarmos para traz. Matar saudades e saber novidades que de outra forma não podia chegar, era quase tão importante como respirar. Hoje é dia de são correio! Dizia-se logo pela manhã sim, porque dia de correio que seja aqui possível expressar por palavras, a forma como condicionava os comportamentos, varria as tristezas fazia alegrias, alterava os humores, transportava cheiros, e ainda que imaginados e satisfazia desejos sonhados. Mesmo aos analfabetos, que os havia. Na véspera todos procuravam o recanto, escolhendo o melhor lugar para alinhavar umas quantas palavras. Uns sentados na cama, improvisavam colocando sobre os joelhos malas, revistas, ou o que quer que oferece-se apoio à escrita. Os que não sabiam escrever confiava a tarefa ao camarada mais à mão. Nos dias de correio, a expectativa gerava uma romaria, que ia entupindo o posto das transmissões em busca de noticias sobre a hora da chegada da pêga. Era dali que vinha a informação sobre o seu trajeto. Logo que aterrava na pista em Nova Coimbra, os de lá era dali que informavam via rádio, o que não impedia que os mais ansiosos se transformavam em sentinelas varrendo o céu com olhares expectantes. O percurso desde
Nova Coimbra era sempre o mesmo, e os horários variavam pouco perto da hora do costume fixavam o olhar no horizonte, no lado norte da pista, na direção do Lunho mal se divisavam o pequeno ponto escuro no azul do céu, gritávamos numa autentica explosão de euforia que ecoava todo o aquartelamento. Lá vem a pêga depois precipitava-se uma corrida para a pista de aviação, enquanto o avião evoluía pousando com a mestria, que denunciava a experiência que as muitas horas de voo conferiam ao homem que o pilotava. O Subtil, além de piloto experiente, era uma pessoa bem estimada, não obstante apenas se demorar poucos minutos em cada sitio era muito popular, mas apenas por ser aquele que nos trazia o tão desejado, o sagrado correio. Mal se imobilizava na pista era imediatamente cercado por homens, ansiosos procurando adivinhar pelo volume do saco, a quantidade de cartas que trazia. Este simples endereço, era o bastante que cada carta ou aerograma, vinda de qualquer ponto do país me chegasse às minhas mãos.
Nova Coimbra era sempre o mesmo, e os horários variavam pouco perto da hora do costume fixavam o olhar no horizonte, no lado norte da pista, na direção do Lunho mal se divisavam o pequeno ponto escuro no azul do céu, gritávamos numa autentica explosão de euforia que ecoava todo o aquartelamento. Lá vem a pêga depois precipitava-se uma corrida para a pista de aviação, enquanto o avião evoluía pousando com a mestria, que denunciava a experiência que as muitas horas de voo conferiam ao homem que o pilotava. O Subtil, além de piloto experiente, era uma pessoa bem estimada, não obstante apenas se demorar poucos minutos em cada sitio era muito popular, mas apenas por ser aquele que nos trazia o tão desejado, o sagrado correio. Mal se imobilizava na pista era imediatamente cercado por homens, ansiosos procurando adivinhar pelo volume do saco, a quantidade de cartas que trazia. Este simples endereço, era o bastante que cada carta ou aerograma, vinda de qualquer ponto do país me chegasse às minhas mãos.
Texto de Bernardino Peixoto
Antigo combatente da guerra do Ultramar Moçambique.
segunda-feira, março 17, 2025
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