domingo, março 15, 2020

Fotos do Lunho 1972 a 1974 e da vida civil.

Picada do Lunho 1972 a 1974.




Niassa Moçambique «LUNHO» 1972 a 1974:
49 anos já passaram daquela tragédia que eu assisti naquela picada foi horrível para mim.  
,Muito haveria ainda para dizer, sobre a particularidade picada do Lunho. Será talvez mania minha insistir  nisto? mas, a verdade é que ainda recordo, aquelas imensidões que nem o arvoredo se atrevia a incomodar. Começando num  ver luxuriante no pico da época das chuvas, aquelas cearas de capim viçoso, mudavam de cor ao sabor dos equinócios, esmaecendo num processo que as iam matizando lentamente de amarelos tímidos até adquirirem aquele ocre por efeito das grandes queimadas, voltando a rejuvenescer com as primeiras águas da época seguinte. É uma natureza que, morrendo pelo fogo, renasce das cinzas, exuberante e pujante como se o fogo lhe conferisse a vitalidade.  Era esta mesma picada  que, formando uma intricada e caótica sucessão de espaços impossíveis  de contornar, se interpunham no nosso caminho dificultando o andamento da viatura, como se, resistido, se procurassem vingar da nossa intromissão que, bem se podia dizer, profanava a quietude daquele mundo selvagem sobrepondo-se ao suave murmúrio de roçagar do capim embalado pela  brisa amolengada por força do calor sufocante que chegava a calar o cucuritar dos pássaros empoleirados no espaço arvoredo circundante. O facto é que, para se ir a qualquer lado, não havia forma de seguir em frente sem seguir  pela picada já que a tentativa de a contornar aumentava a distância, e não se resolvia a questão com o tempo aprendemos  a conhecer especialmente a picada de Nova Coimbra para o Lunho. Trilhar aquela picada era uma aventura; por muitos cuidados que se tivesse e por muito que se pensasse que já sabia tudo, acontecia sempre algo de inesperado. Um dia o desagradável aconteceu na ida do Lunho para Nova Coimbra, tudo correu dentro do previsto mas no regresso quando o pior já ficara para trás a berliet enterra-se no lamaçal da picada, A situação foi sendo resolvida, o episódio que agora recordo e que infelizmente eu assisti, faz parte da história da companhia de caçadores 41 41 os Gaviões, se desenrolou naquela picada consistente que ligava o Lunho, a viatura foi ficando consistente, carregada de soldados quando as chuvas regressavam, a picada ficava submersa, ou porque já estivesse. Permanecia a consistência necessária para a viatura poder circular, sem atascar desde  que o condutor a fizesse circular lentamente, e não se desvia-se do traçado da picada submersa. Até que por razões que não chegaram, o pior aconteceu. Parece que por culpa involuntária, de alguém talvez à mistura com um quanto bastante de excessiva confiança, e complementado com um bom bocado de imprudência, e uma pitada má sorte do condutor, desviou-se do traçado submerso da picada. Ainda que o desvio tivesse sido ligeiro, patinou enterrou-se na lama, e imobilizou-se,. Tentou  fazer marcha atrás, usou todos os truques que entretanto a experiência lhe ensinara para sair do atoleiro mas tudo em vão. Com o cansaço de todos nós que viajávamos em cima da berliet, a viatura continuou queda e muda, presa no amplexo peganhento da lama. Um camarada adido à companhia de caçadores 41 41 os Gaviões seguia ao meu lado, se descuidou tombou da viatura, foi apanhado com o rodado dianteiro do lado direito, que lhe esmagou a cabeça. saltamos abaixo da viatura e já nada pudemos fazer já estava moribundo nós eramos ainda checas de verdade começamos aos gritos ao ver esta dramática situação. Foi conduzido por uma outra viatura até ao aquartelamento do Lunho onde foi colocado junto à Capela dos Bidons. Ali passou a noite no dia seguinte apareceu um pequeno avião com a sua urna e o especialista, que o colocou na mesma  e  chumbou no local,  foi feita a despedida do camarada, com muita tristeza ,  com a nossa ajuda foi transportado até ao pequeno avião estacionado na pista de aviação,  que o levou para ser transladado. Tive conhecimento que esse camarada foi enviado para a Metrópole afim de serem feitas a exéquias fúnebres  foi sepultado no cemitério na sua terra Natal em Cabeceiras de Basto. 

Texto de Bernardino Peixoto Soldado Corneteiro 017516/72:                   

sexta-feira, março 13, 2020