quinta-feira, fevereiro 25, 2016

A MINHA VIAGEM PARA A GUERRA:




Estação dos caminhos-de-ferro de Nova Freixo

11 comentários:

  1. A companhia na cidade da Beira foi dividida em dois escalões eu fui no escalão do comandante da companhia no dia 15 de Novembro de 1972 com destino a Nova Freixo que no mesmo dia embarquei num comboio puxado a lenha com destino a Vila Cabral onde chegou no dia 16 de Novembro de 1972.Feito o desembarque seguimos em direção à Unidade aguardar transporte numa coluna militar No dia 18 de Novembro de 1972 embarcámos na coluna em direção a um destacamento chamado Meponda onde vi o Lago do Niassa com uma linda praia rodeada de guarda sol construídos em palha Feito o desembarque me fui até junto da água tirei as minhas botas para aliviar os pés que se encontravam suados pelos muitos quilómetros que tinha viajado O astro rei que se inclinava sobre a praia como uma bola de fogo fui para debaixo do guarda sol descansar o meu esqueleto A noite se aproximava e era hora do jantar peguei num saco onde transportava a dita (ração) de combate Depois de jantar me deitei debaixo do guarda sol o cansaço era visível adormeci ouvindo as ondas do Lago Niassa batendo no areal Foi uma noite que nunca irei esquecer.

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  2. No inicio da manhã de 19 de Novembro de 1972 quando acordei e avistei uma lancha da marinha junto ao areal da mesma praia onde eu pernoitei debaixo do guarda sol. O sol declinava-se suavemente como uma grande bola de fogo dourada sobre as cálidas águas do Lago Niassa. Aquela lancha carregou mais uma companhia de militares que iriam povoar as densas e sempre perigosas matas do Lunho.O ar trépido estampado no meu olhar ao ver os meus camaradas debruçados no tombadilho da lancha observando atónitos a algazarra que recrudescia à medida que a lancha baloiçava suavemente sobre o atapetado manto formado pelas águas do Lago Niassa.A lancha chega a Metangula e aproximou-se a hora do desembarque fomos lançados para terra.Nessa linda praia o ar estampado no meu olhar vi muitos militares todos bastante morenos queimados do sol com as fardas camufladas já gasta e rota com garrafas de cerveja na mão nos dando uma boa receção de boas vindas.Eu senti uma grande angústia e iguais incertezas quanto ao futuro.A companhia ficou umas horas naquele destacamento em Metangula enquanto era preparada a coluna auto que nos iria conduzir até ao Lunho.

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  3. O comandante Capitão Miliº António Cardoso ordenou que se fizesse a formatura para preparar a companhia para dar inicio ao seu embarque.Os militares daquele destacamento acompanhou a coluna para nos fazer a proteção na longa viagem pois a picada era de alto risco.Passei por um aldeamento que tinha o nome de Nova Coimbra onde habitavam homens mulheres e crianças de raça negra e um destacamento das nossas tropas que à nossa passagem gritavam bem alto "checa" è pior que turra ides para o mato ides para o inferno do Lunho.Depois de uma pequena pausa em Nova Coimbra entretanto aproximava-se a hora de abandonar o local aquele lúgubre espetáculo afrouxara momentaneamente a coluna militar que levava à sua frente soldados com detetores e uns paus com um ferro na ponta a picar a picada do Lunho tentando detetar explosivos.A refulgência do astro rei deixara de brilhar sobre a picada estava a sentir uma angustia e a incerteza quanto ao futuro.A coluna seguia em marcha lenta e já se encontrava muito perto do destino.Mais além vislumbrava na penumbra a silhueta de um aglomerado de latas construído de chapas de zinco e cercado de matagal.A coluna tinha terminado a sua viagem.Feito o desembarque vi no seu exterior e interior um quartel repleto de militares emprestava àquele ambiente um misto e policromo quadro irradiado das fardas camufladas onde o brilho das envergadas pelos "checas" acabados de chegar que sobressaía das dos "Kakuanos" (velhos) já debotadas pelos muitos meses de uso.Ao aproximar para dentro do bairro senti no meu intimo pensamento uma perene esperança que o regresso seria uma incerteza.Senti que iria enfrentar um cenário de guerra.Em nosso redor os velhinhos nunca nos abandonaram nos deram muita coragem para enfrentar tal situação.Mais além vislumbrei ainda na penumbra silhueta de ver em meu redor muito capim uma pequena pista de aviação.

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  4. tudo isto é certo eu passei o mesmo em
    1969.

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  5. Perto do Lunho existia uma base do inimigo a quem chamavam a Mepótxe e segundo diziam ninguém lá podia penetrar.O terreno era ravinado e não se conseguia penetrar dado que os trilhos se encontravam armadilhados e fora dos mesmos era impossível a progressão.O comandante da companhia designou uma operação de oito dias.Depois de determinado o numero de homens o pessoal que tomaram parte da operação ordenou-se que tivessem formado na parada para nos dar a conhecer os cuidados a ter no mato.Em seguida foram distribuídas (ração) de combate alimento que nos foi fornecido para nos podermos manter em pé nos dias em que tivemos de dormir sob o firmamento e com as costas ao rolento.A despedida dos rapazes que fizeram parte na operação foi análoga aquelas despedidas havia lágrimas que rebentavam aqui havia lágrimas que não rebentavam.Os que partiram abraçavam os que ficavam a guardar o bairro das latas confortando-nos e nos desejaram uma boa estadia no mato.Parecia que partia-mos para muito longe e que nunca mais nos iriam ver parecia que partimos para um jogo de vida ou de morte parece que partimos para a morte.Nos nossos rostos não deixavam saltar um sorriso e só não deixavam verter lágruimas porque eramos homens.Estas partidas foram cenas que comoveram muita gente.Havia um desgaste quer físico quer psíquico difícil de avaliar quer no pessoal que partiu quer no pessoal que ficou.Os que ficavam no aquartelamento tiravam fotos aos que partiam para o mato.Porquê?Talvês queriam ficar com uma recordação impressa que poderá voltar inanimado ou mesmo não voltar.Insintam selvaticamente os nómadas à vitoria.Ouviam-se frases que não citarei simplesmente direi que foram horripilantes.




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  6. Tudo tão longe e tão perto companheiro. Só quem por lá "viveu" como nós pode avaliar.Abraço

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  7. Neste lar sem união comi carne de vaca ou de burro que alguém já tinha rejeitado.Eramos visitados duas vezes por semana.Tinhamos direito apenas a 200 kg de viveres portanto 400 kg para serem consumidos em sete dias.A zona não era explorada e como tal só era possível tragar o que nos levavam.Bebiamos água férrea quando havia avaria na bomba ou no motor que a fazia mover ou então quando faltava o combustível para a movimentação da máquina.Bebia-se esta mesma água a temperaturas que faziam pelar leitões quando as geleiras não funcionavam coisa que frequentemente se verificava.O vinho da velha cepa não chegava aquelas paragens chegavam sim uns barris de água do Lago do Niassa com um pouco de tinta vermelha e outros cheios de vinagre.Mesmo assim o vinagre e a água colorida era racionalmente servido por um elemento da secção da cozinha com uma lata de cerveja cortada pelo meio.Este vaso definitivamente provisório não tinha asa nem qualquer coisa do género por onde se lhe pegue.Podia beber ainda à troca da pecúnia a cerveja com carimbo de isenção mas vendida a preço corrente.Quando a cerveja falhava como era habitual bebia coca cola e quando esta falhava bebia sumo quando este falhava passava sede.Claro que havia mais bebidas estas eram pagas a preço de consumo.

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  8. Lunho Moçambique 1973.
    O checa ficou velhinho um dia foi voluntário escalado para tomar parte numa rotineira passeadela pela Mepotxe. Comanda um grupo com todas as preocupações teóricas que os seus instrutores lhe incutiram na memória. Os soldados dado que eram veteranos na mata começaram a rir-se e a ver com ar ridículo as atitudes do checa.Contudo o checa foi mesmo ao objetivo dado que era caloiro.Necessitando de meter gazolina no aparelho dijestivo mandou montar um pequeno palco para o efeito. O Zé turra gostava muito de nos seguir e naquele dia foi mesmo o que sucedeu. Entre os nossos há um que veu aparecer no meio do capim aquelas cabeças com cabelos encarapinhado. Avisou o seu comandante de secção que era das operações difíceis.Fez a pontaria esperou a aproximação do alvo e prime o gatilho na hora exata. Foi mais um dos elementos subressivos que tombou. Era ainda manhã o sol ainda não se tinha afastado do horizonte. O moribundo trazia na mão além da arma que não chegou a utilizar uma cana de açúcar com a qual tomava o seu pequeno almoço. O cadáver caiu por terra a mão abriu e a cana ficou entre os dedos.do moribundo. O caçador especial que atingiu o rebelde foi procurar a arma viu a cana viu o sangue de um homem veu o efeito da sua arma veu o que o seu dedo provocou veu um cadáver prostado por terra viu um homem sem vida viu os buracos dos projeteis da sua arma. Voltou para junto dos seus camaradas de campanha a transpirar mas sentindo bastante frio que lhe causou arrepios. Sentiu glória sentiu frustração sentiu remorsos sentiu-se mal sentiu uma mistura de reação que acabou por ficar emocionado.

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  9. A operação tinha terminado e voltamos ao quartel na hora da chegada parecia mais um grande hotel que um bairro de latas. O homem das operações difíceis traz o seu troféu de campo da batalha. Os que ficaram no quartel rodearam o homem que matou para não morrer pedem explicações ele falou mas notou-se que estava emocionado.Sentou-se à mesa não comia pensava meditava e prenunciava como: o seu pequeno almoço era uma reles cana de açúcar os seus sapatos eram tão velhos como ele a sua arma não funcionou logo fui eu que o fiz tombar. Sim foi difícil de descrever o que efetivamente um inofensivo sentiu depois de matar um homem ato esse que nunca tinha praticado.Tudo isto se teria evitado se o Zé turra não tenta fugir tudo isto seria evitado se ele o moribundo não tivesse abraçado consciente ou inconscientemente a vida da rebeldia. Nunca cheguei a perceber porque razão havia gente a viver na mata gente que vivia primitivamente gente que gostava de viver em pé de guerra e só porque não queriam viver em paz à sombra da bandeira verde e vermelha. Sei que esta subversão era do exterior oriunda e alimentada mas quem sofreu as suas funestas consequências eram dos que cá viviam não só os inocentes foram os inconscientes fomos todos nós.

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  10. Esta zona era muito rica pois minas era mato. Havia quem lhe chamá-se e bem (O ESTADO DE MINAS GERAIS). Este engenho se não fosse detetado podia fazer ir pelos ares o pessoal e podia dar origem à aprendizagem de para-quedismo.Mas como sempre a critica vinha ao de cima a nota predominante e o protesto de uma povoação do Niassa Ocidental chamado Lunho era duro de roer.

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  11. LUNHO MOÇAMBIQUE 1973
    No dia 12 de Abril de 1973 na oficina mecânica quando alguns dos meus camaradas se encontravam a fazer diversos trabalhos de mecânica um dos camaradas se lembrou de acender um cigarro junto do material inflamado ao acender a chama com o ronson da picada de repente se ouviu um grande estrondo.O pessoal que se encontrava no bairro de latas correnram em direção ao local do acidente foram encontrados os camaradas que se encontravam no seu interior gravemente feridos. o 1.º cabo mecânico Carlos Pereira o soldado António M. C. Ferreira o Joaquim J.Serrão tendo sido evacuados para enfermaria do setor "A" Tendo falecido no dia 25 de Abril de 1973 o Condutor auto Joaquim J. Serrão.

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Recordações da minha vida Militar.